Cheguei há pouco da reunião da comissão que indicou Salve Geral como candidato brasileiro a uma indicação da Academia para o Oscar de melhor filme em língua estrangeira.
Por norma, não podemos relatar o processo de escolha. Mas, como foi divulgado que o resultado não foi por unanimidade, mas por votação, posso dizer que três filmes ficaram na reta final das discussões. O filme de Sérgio Rezende acabou escolhido por diversas razões. A principal delas foi a maturidade do diretor no trato com um tema áspero, que se reflete no nível técnico, artístico e de produção. Não é um filme perfeito, mas tem competitividade para disputar uma indicação.
O fato de que vários filmes com temática semelhante concorreram no passado recente nessa categoria e fracassaram – Cidade de Deus, Carandiru, Última Parada 174 – foi obviamente levantado pela comissão. Mas isso não representou um empecilho diante das qualidades de Salve Geral. O filme é comunicativo para um público amplo e articula com felicidade o drama pessoal de uma mater dolorosa com o panorama de insegurança e descontrole vivido pela cidade de São Paulo no episódio do PCC.
Há quem diga que Salve Geral é a resposta carioca a Cidade de Deus, um filme paulista focado no Rio de Janeiro. Se Sérgio Rezende obtiver metade da repercussão obtida por Fernando Meirelles, já será uma vitória e tanto para o Brasil. O Oscar, isso nenhuma comissão é capaz de prever. Vamos cruzar os dedos.
Este filme só veio para mostrar meias verdades.
Eu já estou com pena do pobre PCC…
Pingback: E o vencedor… « Quem tem medo de Virginia Woolf?
Concordo com as restrições acima da Cecilia ao filme mas acho até que ela foi comedida: o elenco TODO está muito mal, e não só nos papéis secundários; em grande parte pelo desenvolvimento muito ruim do roteiro, da verossimilhança psicológica e do arco dramático dos personagens, além dos diálogos constrangedores e/ou “explicativos” para o espectador entender direitinho. O filme não acredita no público nem em sua narrativa visual. Quando à “falta de objetivos”, penso pior do que Cecilia: talvez o filme pretendesse denunciar a perda de valores morais e éticos em uma sociedade em que isso se torna epidêmico, mas é tão mal desenvolvido desde o roteiro (parece que o maior objetivo era ter cenas como a de preseguição de carros, obrigatória em filmes de gênero policial americanos) que o “recado geral” fica sendo que… não só vale-tudo mesmo, mas que tudo se “justifica” em interesses privados. “O que não se faz ilegalmente que não se faça no Brasil a todo momento?” – era para ser uma frase-denúncia e acaba soando como um “argumento” para “liberar geral”. Ou seja, os mesmos equívocos (na melhor das hipóteses) de “Tropa de Elite” e de “Meu nome não é Johnny”. Mas achei ainda pior do que esses dois juntos.
😦
Vocês já tinham feito a constatação de que o tema se repete há algum tempo.
“O fato de que vários filmes com temática semelhante concorreram no passado recente nessa categoria e fracassaram – Cidade de Deus, Carandiru, Última Parada 174 – foi obviamente levantado pela comissão.”
😉
Cecília, compreendo seu ponto de vista, mas devo tentar esclarecer alguns pontos. Primeiro, que a comissão muda a cada ano, à exceção do Secretário do Audiovisual. Portanto, não cabe a frase “vocês já tinham feito”. Não me compete descer a detalhes do processo de escolha, mas é preciso deixar claro que todos os 10 filmes foram discutidos nos seus aspectos técnicos, artísticos, temáticos, de produção e de competitividade. Só assim a comissão (formada por crítico, pequisadora, cineasta, produtor e exibidor) chegou à decisão a favor de “Salve Geral”.
Ops, não foi o filme levantou polêmica (já que não foi lançado em grande escala), o assunto é que fez isso.
Estou ansioso para assistir à esse filme, já que levantou uma grande polêmica na polícia paulistana (todo policial diz que o governo negociou regalias para os prisioneiros em troca do fim dos atentados e exatamente por essas e outras que há um acordo entre os policiais de não votar em José Serra nestas eleições. Esse filme e quero ver. Só espero que toquem neste tema. Tomara.
Olha, com todo respeito!
Enquanto esse for o pensamento das comissões, a gente não vai conseguir chegar em lugar nenhum.
Se pode mandar um filme bom, porque mandar um inferior que trate de temas que supostamente serão mais bem-recebidos?
Não que eu tenha odiado Salve Geral, de jeito nenhum, mas o filme tem defeitos graves de narrativa e de atuação.
Abraços,
Cecilia, onde você leu que o filme foi escolhido por causa do tema? Eu disse quase o contrário. Apesar do tema “complicado”, a comissão optou pelo filme com o maior conjunto de qualidades e fatores competitivos. Afinal, onde está o filme perfeito?
Eu não li. É uma constatação depois dos últimos nomes enviados e na repetição do tema, que como diz o seu texto, vocês já tinham feito.
A escolha de Salve Geral me deixou surpresa por não ter muita justificativa, a não ser pelo tema.
A irregularidade do elenco (principalmente nos papéis secundários), as dificuldades de adequação do roteiro na primeira metade do filme e a falta de objetivo não eram pontos a ser mais rigorosamente considerados?
Quanto ao filme perfeito, sei que ele não existe na lista, mas acredito que tínhamos mais chances de concorrer com outro título.
De qualquer jeito, respeito a escolha da comissão, só acho que mudanças poderiam ser bem-vindas em futuras escolhas.
Abraço,