Culturas de Resistência

A globalização do bem

A paz não se confunde com a resistência, mas é o resultado dela. A partir dessa constatação que serve como epígrafe, o filme da brasileira Iara Lee faz um inventário de formas de resistência à opressão e à deterioração social em países de diversos continentes. Nem todas ligadas estritamente à cultura, como é o caso dos guerrilheiros do Exército de Emancipação da Nigéria, ou dos índios caiapós que agridem um relações públicas da usina de Belo Monte.

Colocando essas cenas na parte inicial do filme, Iara inclui a violência como forma de resistência, mas indica sua superação pelas muitas ações de não-violência que se seguem. É assim que vemos a regeneração de soldados infantis na Libéria, capoeiristas da paz no Líbano, festival internacional de poesia em Medellin, revolução pacífica dos monges da Birmânia, grafiteiros e rappers “verdes” de Teerã, fuzis transformados em guitarras no Rio de Janeiro, e por aí afora.

Composto de módulos curtos, o filme privilegia a visão de painel horizontal, sem se aprofundar em nenhuma dessas manifestações, nem mesmo destacar as diferenças de contexto e atitude de cada uma. O objetivo é enfeixá-las numa ideia geral de cultura de resistência, ou “global public opinion”, poder em ascensão no mundo contemporâneo. Seria a globalização do bem, formada não por corporações, mas por grupos e redes que incorporam a heterogeneidade como traço, não como empecilho. Um filme como esse ajuda a evidenciar similaridades e fortalecer o sentimento coletivo. De resto, o material filmado e coletado por Iara Lee tem ótima qualidade técnica e ganha força no trabalho de edição.  

Uma observação: o filme não inclui o material gravado por Iara no navio de ajuda humanitária atacado por Israel a caminho de Gaza em maio último.

Um comentário sobre “Culturas de Resistência

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